No dia 29 de setembro de 2020 a Organização das Nações Unidas para Alimento e Agricultura (FAO), estabeleceu pela primeira vez o Dia Internacional de Conscientização da Perda e Desperdício de Alimentos. Isso vem durante a pandemia global da Covid-19 que trouxe um alerta sobre a necessidade de transformar e reequilibrar a forma como nossos alimentos são produzidos e consumidos.
Para muitas pessoas no mundo, o desperdício de alimentos tornou-se um hábito, comprar mais comida do que precisa, deixar frutas e legumes estragarem em casa ou tomar porções maiores do que serão consumidas durante as refeições. Essas práticas colocam pressão extra sobre os recursos naturais e prejudicam o meio ambiente. Quando se desperdiça alimentos, é também desperdiçado o trabalho, esforço, investimento e recursos preciosos, como água, sementes, fertilizantes, ração etc. que são usados na produção, sem considerar os recursos para transporte e processamento. Em resumo, o desperdício de alimentos aumenta as emissões de gases de efeito estufa e contribui para as mudanças climáticas.
Isso é um problema global, diariamente toneladas de alimentos comestíveis são perdidas ou desperdiçadas em todo o mundo. De acordo com o relatório da FAO sobre “O Estado da Alimentação e Agricultura” de 2019, apenas entre a colheita e o varejo, cerca de 14% de todos os alimentos produzidos no planeta são perdidos, enquanto os outros 86% são desperdiçados no varejo ou no nível do consumidor.
Existe uma diferença entre a perda e o desperdício de alimentos. A parte dos alimentos que é perdida da colheita até o varejo (mas não incluindo este), é considerada “perda de alimentos”, e geralmente ocorre por falta de estrutura apropriada, como problema na colheita, armazenamento ou transporte inadequado dos alimentos, sendo mais frequentes em países subdesenvolvidos pela precária infraestrutura. A parte desperdiçada no varejo e no consumo é referida como “desperdício de alimentos”. Essa distinção se faz para abordar as causas básicas do problema, que é de responsabilidade de todos os elos da cadeia de valor do agronegócio, do campo à mesa.
No Brasil estima-se que são descartados aproximadamente 30% de tudo que é produzido para o consumo. Um dado interessante é que o arroz é o alimento mais desperdiçado no país, com 22% do total, seguido pela carne bovina com 20%, feijão com 16%, frango com 15%, hortaliças e frutas com 4%.
Esses dados não dizem respeito apenas ao setor agropecuário ou econômico, também é um problema de questão cultural, que envolve toda a sociedade. Com a abundância de recursos naturais e por nunca ter enfrentado flagelos de guerras, a cultura de ostentar “mesa farta” ganhou força entre as famílias brasileiras. O ato de receber familiares e amigos com excesso e variedade de alimentos nas refeições está associado não apenas ao zelo e cuidado familiar, mas também a boa hospitalidade e ao status.
A busca pela redução das perdas e desperdício de alimentos é essencial em um mundo onde milhões de pessoas ainda passam fome todos os dias, apesar das fartas produções agrícolas. Portanto, reduzir o desperdício é respeitar aqueles que por diversos motivos não tem acesso digno a comida.
Algumas ações podem ser adotadas para se reconectar ao alimento e o que ele representa, como adoção de uma dieta saudável, comprar apenas o necessário, não escolher frutas e verduras apenas pela aparência, armazenar os alimentos de forma adequada, buscar entender sobre a produção de alimentos, conhecer e apoiar os agricultores locais e da região, compartilhar e doar alimentos que de outra forma seriam desperdiçados.
Desperdiçar menos, comer melhor e adotar um estilo de vida saudável são fundamentais para a construção de um mundo sem fome. Isso depende de atitude, pequenas mudanças nos hábitos diários causam um grande impacto global, para as pessoas e o planeta. Esse é o agro brasileiro, sempre em frente e confiante!
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Autores
Fabio H. Pereira – Engenheiro Agrônomo, MSc
Roberto G. Pereira – Economista e Contador
Paulo A. Pereira – Engenheiro Agrônomo e Especialista em Manejo de Solo
Nome da Coluna: Por Dentro do Agro